quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

tesoura SANTIAGO E O JORNAL DO COMÉRCIO

Depoimento do chargista sobre
os 5 anos de restrições à atividade



Quando encaminhei esse projeto para o JC imaginei que a gente poderia levar o jornal, pelo menos no setor chargístico, a ser uma coisa como foi a Gazeta Mercantil no seu todo, um jornal dos negócios e das empresas, mas que sempre deu, com correção exemplar, até notícias e matérias que iam contra o empresariado. Imaginava charges dignas e originais, nada mais. Nunca imaginei fazermos a revolução lá dentro.

E nunca nenhum de nós tentou nada que sequer cheirasse à charge panfletária ou engajada. Buscamos temas novos que não fossem aquelas bobagens, como desenhar o congresso em forma de pizza ou ficar chovendo no molhado como aquelas charges de Renan versus boazuda pelada da PlayBoy, por exemplo. Eu todos os dias olhava o Charge on Line com os seus chavões cansados, para saber o que não deveria fazer. Se a gente ficasse, espertamente, só nesses chavões, como as charges do Diário Gaúcho, a gente se eternizava lá.

É preciso dizer que nós fomos muito pacientes com eles. Passamos todo o governo Rigotto com uma censura prévia de sequer falar do governador. Depois se repetiu com a Yeda, quando já ficou implícito que não se devia falar de governadora. Falar de juizes já não podia há 3 anos: o editor dizia que estávamos fazendo "campanha".



Acontece que topamos com duas enormes rochas: um dono de jornal que recém chegou do setor de vendas de patentes e torneiras e um editor amedrontado e incapaz de explicar minimamente ao chefão que o bom de um jornal é ter um pouco de contraditório, até para vender melhor. Nos últimos dias o editor já havia ficado em pânico com a carta de um leitor claramente desequilibrado que argumentava que "dogmas conservadores não podiam ser discutidos".

Eu já havia passado por situação exatamente igual, quando fiz uma tentativa com o Estado de São Paulo na década de 90. Para uma publicação tão monolítica e conservadora, era incompatível a mínima irreverência que se tentou fazer. Teria que repetir agora para o editor do JC a mesma coisa que eu disse para o do Estadão quando saí: humor tem que ter veneno, se não pode veneno então tem que ter pimenta, se não pode pimenta então tem que ter sal, se não pode nem sal então vira comida para doente.

Mas acho também que é preciso reforçar publicamente o discurso de que jornais são uma concessão moral (não concessão legal/governamental, como as TVs) que a sociedade dá aos empresários, com o acordo de que eles podem ganhar o seu dinheirinho, mas tem que dar em troca notícia e verdade. É um negócio, mas um negócio diferente do de vender torneiras e vasos sanitários, tem que vender a verdade, e a verdade é uma busca que se faz com o questionamento, onde se enquadra a charge, que, com a sua irreverência, nada mais faz do que questionar. (Santiago)



(Primeiro depoimento de uma série de três. Amanhã, publicaremos o do Moa. Na sexta, o do Kayser)

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