terça-feira, 4 de setembro de 2007

exposição HÉLIO COELHO

Duas visões sobre o
trabalho de Hélio Coelho.




Por Fabio Zimbres

Com os pés descalços ele avança, os cipós ele afasta com as mãos. As boas folhas ele deixa marcadas com nanquim pelo caminho e na trama de sua floresta ele vai descobrindo novos espíritos, já velhos de esperar quem os descobrissem. Hélio Coelho é um novo selvagem. No emaranhado das ruas de suas cidades ele redescobre um mundo que ficou para trás e que ficou irremediavelmente sob sua pele, tatuado.



Ele é o conquistador de um país em brasa, as chamas mais altas que o Monte Pascoal afugentam animais que só para ele existem, como se sua retina projetasse sobre sua mente as formas animais, animadas em amarelo fogo. Cascos e patas marcam o chão a sua volta e o convidam a penetrar cada vez mais nas labaredas.



Todo trabalho não é mais que o registro de um caminhar sobre a terra e o que se vê nas telas, papéis, papelões e notas de dinheiro de Hélio Coelho é um velho Brasil de olhos vermelhos: o que foi sem nunca ter sido e o que não será quando chegar sua vez. Da luta entre as impossibilidades e o sonho, do novo selvagem e do velho conquistador, dos olhos cansados da terra e da selva em brasa surgiu um mundo que o Hélio guarda e redescobre todos os dias em cada desenho que ele deixa marcando sua trilha.



Dia após dia, sob o vôo de helicópteros e a ameaça de cataclismas criados pelo homem ou não, velhos hábitos são reproduzidos até ganharem a leveza de um exercício de respiração, até que os pés fiquem leves, o sujeito se perca e velhas casas simples banhadas de sol e sombras de bananeiras voltem a viver. É assim que todos os dias renasce o mundo que Hélio reinventa e tira da escuridão.



Por Otto Guerra.

Hélio Coelho nasceu no mesmo ano que eu, 1956. Mas quando o conheci, em 2005, vi nele eu, menino, com 13 anos. Naquela época, a vida, fora da folha de papel, era opaca. A luz, o frio, o vento e o que mais valesse a pena estava lá. Ia ficando pelos riscos da ponta do meu lápis ou da caneta bic preta. Eram minhas histórias em quadrinhos.



Ver o Hélio desenhando me dá uma puta saudade de mim mesmo. Perdi a ingenuidade e parei de desenhar as histórias, mas cruzar com o Hélio me trouxe automaticamente a sensação de estar lá de novo. Se eu desenhasse ainda, estaria copiando o Hélio.



Serviço
Exposição: Hélio Coelho
Onde: Museu do Trabalho
Quando: Até dia 28/10
Endereço: Rua dos Andradas, 230

2 comentários:

Anônimo disse...

Grande Pequeno Fábio Zimbres, baita texto inspirado!!!!
Me ensina a escrever poéticamente!
Santiago

Anônimo disse...

esse Coelho é dimais