sábado, 18 de agosto de 2007

mestres dos mestres CARL BARKS

O sol que iluminava
o império Disney



No final da década de 50 eu tinha uns oito anos, mas já tinha outra coisa: olho clínico. Quando chegava na banca pra comprar gibi do pato Donald, só comprava quando reconhecia aquele estilo de desenho. Claro que não sabia o nome do artista, já que a única assinatura era Walt Disney, mas eu saquei que embaixo deste nome havia muitos desenhistas diferentes, e só aquele me dava vontade de desenhar assim.



Só muitos anos depois descobri o nome Carl Barks, e várias outras coisas. Por exemplo, que apesar da quase homofonia do seu nome com Karl Marx, era um ferrenho anticomunista, estilo guerra fria. O que, ironicamente, não impediu que criasse a caricatura mais perfeita dos piores aspectos do capitalismo: o sovina Tio Patinhas.



E não impediu que o capitalismo o ferrasse: depois de décadas alavancando o universo Disney, criando historietas e personagens fundamentais (sem direito a assinar seu trabalho), se aposentou e foi processado por Disney porque pintava quadros com os personagens dos patos...



Barks era um grande roteirista, suas histórias tinham humor, aventura, suspense e non sense, fosse num exótico país mitológico, fosse no quintal de Donald. Era um baita caricaturista de costumes e criador de tipos, mas o que me encantou pro resto da vida sempre foi o desenho.



Barks desenvolveu um estilo de linha densa com bico de pena, onde o traço muda de espessura ao longo da trajetória, e entinta com naturalidade, caligráfico, como quem escreve. Os movimentos e expressões dos personagens são desenhados com a simplicidade de quem não precisa de nenhum traço supérfluo.



Num contexto em que o uso do bico de pena parece "difícil" pra muito novato, o trabalho de Barks mostra que essa técnica é insubstituível e, pra quem tem fé no taco, vale a pena. (Edgar Vasques, especialmente para o Tinta China)



(APÊNDICE: Carl Barks [1901-2000] é o pai da maior parte da população de Patópolis, cidade inventada por ele. O que inclui os principais e mais interessantes personagens e centenas, talvez milhares de coadjuvantes e figurantes. Tio Patinhas (1947), a Vovó Donalda (e o Gansolino) Gastão (1948), os escoteiros mirins, os Irmãos Metralha (1951), o prof. Pardal e seu Lampadinha (1952), a Maga Patalójika e tantos outros que contracenam com Pato Donald. Sem essas criaturas, as atribulações domésticas e as aventuras malucas ou exóticas do pato mais rabugento do mundo seriam bem menos atraentes. Carl Barks produziu (roteiro e desenho) por décadas as revistas que foram reproduzidas pelo mundo inteiro, em dezenas de idiomas. Para saber mais sobre sua biografia e carreira, acesse aqui.)


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