mestres dos mestres CARL BARKS
O sol que iluminava
o império Disney
No final da década de 50 eu tinha uns oito anos, mas já tinha outra coisa: olho clínico. Quando chegava na banca pra comprar gibi do pato Donald, só comprava quando reconhecia aquele estilo de desenho. Claro que não sabia o nome do artista, já que a única assinatura era Walt Disney, mas eu saquei que embaixo deste nome havia muitos desenhistas diferentes, e só aquele me dava vontade de desenhar assim.
Só muitos anos depois descobri o nome Carl Barks, e várias outras coisas. Por exemplo, que apesar da quase homofonia do seu nome com Karl Marx, era um ferrenho anticomunista, estilo guerra fria. O que, ironicamente, não impediu que criasse a caricatura mais perfeita dos piores aspectos do capitalismo: o sovina Tio Patinhas.
E não impediu que o capitalismo o ferrasse: depois de décadas alavancando o universo Disney, criando historietas e personagens fundamentais (sem direito a assinar seu trabalho), se aposentou e foi processado por Disney porque pintava quadros com os personagens dos patos...
Barks era um grande roteirista, suas histórias tinham humor, aventura, suspense e non sense, fosse num exótico país mitológico, fosse no quintal de Donald. Era um baita caricaturista de costumes e criador de tipos, mas o que me encantou pro resto da vida sempre foi o desenho.
Barks desenvolveu um estilo de linha densa com bico de pena, onde o traço muda de espessura ao longo da trajetória, e entinta com naturalidade, caligráfico, como quem escreve. Os movimentos e expressões dos personagens são desenhados com a simplicidade de quem não precisa de nenhum traço supérfluo.
Num contexto em que o uso do bico de pena parece "difícil" pra muito novato, o trabalho de Barks mostra que essa técnica é insubstituível e, pra quem tem fé no taco, vale a pena. (Edgar Vasques, especialmente para o Tinta China)
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