exposição JUNIOR LOPES EM POA
Rasgos de genialidade em
retratos com retalhos
Nas artes plásticas cabe tudo, desde o incabível até o descabido. O que cai como luva de mil dedos no Junior Lopes. Para esse inquieto cartunista e caricaturista goiano-paraense-paulistano, não teria cabimento ficar só no risca-rabisca. Caberia tentar técnica inédita para retratar, ousar não ser apenas mais um retratista? Como se vê nos seus retratos com retalhos, coube. E cabe mais: nesses remendos, Junior Lopes avizinha a arte têxtil das artes gráficas. A maior parte do que ele cria começa em tecidos e acaba quase tudo em páginas.
Como ilustrador original, inaugura algo híbrido. Cabem perguntas: ainda é desenho? Ou já será tecitura? Seja o que for, o resultado fascina. Como surpreende o processo. Só vendo, como já vi: em vez de riscos, fiapos; no lugar de traços, trapos; como manchas, estampas. Simples e funcional assim. E embasado, também: por trás das criações, há retinas bêbadas de contracultura, viciadas nos códigos de signos e aliviadas pelo colírio da cultura pop. Coisas mal vislumbradas nas texturas. Mas que deslumbram: você se aproxima, vê só panos; se afasta, aí avultam ícones culturais. Nada mais gestaltiano.
Voraz consumidor visual, no imaginário cult de Junior Lopes há gestações inimagináveis. Enquanto rasga, recorta e retalha, ele se aventura em busca imagística que, por ser feita de pedaços de incertezas, só o prazer aflitivo da fruição lhe é garantido. Até que os restos de rostos se rearranjam numa fisionomia única. Instintiva e intuitivamente – isto é, com um olhar que sabe onde pisa e com outro que nem quer saber onde é o chão – Junior Lopes logra o gozo de configurar outro ídolo genial. Essa é a sua vertigem, diz ele. O nosso assombro, digamos.
Ah, não mencionei nenhuma tesoura? Acessório ordinário em meio ao extraordinário. (Fraga)
Serviço
Endereço: Rua dos Andradas, 1223
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