sábado, 7 de julho de 2007

editorial NÚMERO 1

Quem não tem portal que
escancare sua porteira

No ar, o Tinta China, o blog sem blague da Grafar.
O endereço é www.grafar.blogspot.com

É o canal canalizado dos Grafistas Associados do RS, uma associação de livre iniciativa, meio gozativa, com fins criativos. Que passa a transmitir de lugar ao largo do lucro e do logro. Daqui se irradia a graça gaúcha, o humor que não se adia. Feito por artistas gráficos dispostos, expostos e a postos. Vamos emitir tudo sem omitir nada. De traços a troças, de troços às traças, de terça a terça.

Pois nesta imaginativa emissora, cada grafariano é um potente gerador de imagens – charges, cartuns, caricaturas, ilustrações e quadrinhos. Captou as possibilidades? Tantos antenados juntos tinha que funcionar, e funciona: um por todos os espaços abertos, todos por um mercado digno. Da altitude desta torre de talentos, saem os sinais de atitude producente e inquietude inteligente. Para chegar a mais jornais e revistas, editoras e agências de propaganda, internet e novos meios. Afinal, o que são riscos numa tela para quem já os corria em papel?

Acompanhe diariamente a programação do Tinta China.

Como associado da Grafar, o Tinta China é seu. Participe com idéias – rabiscadas ou garatujadas, esboçadas ou finalizadas. Para colaborar, basta laborar ou elaborar. Ao comentar e criticar, seja criativo, proativo e construtivo: mande tijolos na parede, não nos pedreiros. Para elogiar, não siga nenhuma instrução. Como visitante, não se iniba: manifeste-se. O mais interessante é que seu interesse pelo Tinta China também nos deixa interessados.

Enfim, mais que ligados. Blogados.

charge MOA




Título: Espancamento
Técnica: caneta e computador
Veículo: Jornal do Comércio
Local: Porto Alegre

cartum KAYSER



Título: Jesus
Técnica: Nanquim e computador
Veículo: Exposição
Local: Juiz de Fora, MG

exposição ORLANDO PEDROSO EM POA




Há pessoas que desenham como se o nanquim – ou o guache ou a aquarela ou o pastel ou o acrílico – coagulassem em sua veia criativa antes de qualquer inspiração poder fluir sobre o papel. Tipo eu. E há pessoas com um sistema circulatório artístico completamente desobstruído, que favorece o jorro do talento com qualquer material. Tipo o Orlando Pedroso. Você olha um único desenho e não precisa ser especialista em arte pra diagnosticar: esse cara jamais teve ou terá qualquer bloqueio criativo. Pelo contrário: quando admiramos a fluidez do seu bico de pena (por exemplo, ao folhear seu livro Moças Finas) nossas artérias é que se aceleram, com o prazer visual. Esse sensual livrinho, aliás, nasceu dessa agilidade gráfica do Orlando Pedroso, a partir de uma seqüência de postagens no blog do Solda. Como se explica tamanha capacidade e qualidade?



Coisas de DNA. E da experiência e da cultura, acumuladas: sua trajetória de ilustrador já tem 30 anos, mais de 20 na Folha de São Paulo. Por isso se dá ao luxo – ele pode se dar! – de manter na internet duas galerias da sua produção, uma de trabalhos publicados, uma outra de inéditos; imagine, um artista que dá a você a opção de onde babar. O tempo livre (!) Orlando Pedroso ocupa com exposições individuais e coletivas, como os salões de humor. E nesses últimos, o talento dele se vale (ainda!) de outra ferramenta, a câmera, para abastecer seu terceiro espaço eletrônico, o blog só desenhistas, que por si só é uma valiosa contribuição à memória nacional. Para saber mais desse fenômeno do traço e da cor, faça como seus admiradores: prestigie a exposição Uns Desenhos no Museu do Trabalho. Lá, com certeza, haverá um outro tipo de AVC: Admiração Visual Coletiva. (Fraga)

Serviço

Exposição: Uns Desenhos
Autor: Orlando Pedroso
Onde: Museu do Trabalho
Quando: até 19 de agosto de 2007
Endereço: Andradas, 230

caricatura GILMAR FRAGA




Título: Beatles Sgt. Pepper´s
Técnica: nanquim e computador
Veículo: Zero Hora
Local: Porto Alegre

ilustração RODRIGO ROSA




Título: Cais de Belém do Pará
Técnica: nanquim e aquarela
Veículo: Calendário 2006
Local: Porto Alegre

bate-pronto HALS

Hals entrega o jogo
mas segura o ouro.



Sua identidade secreta é identificável: funcionário técnico-administrativo da URFGS. Porém a parte mais saliente do currículo é a presidência da Grafar. Armado de sua insubstituível Lamy – se for, será por outra – Hals dispara traços contra qualquer alvo sentado à sua frente. Em entrevista exclusiva para o Tinta China, Hals revela quanto cálcio há nos ossos do seu ofício. Daí tão esbelto esqueleto.

Tinta China – Como artista gráfico, qual a tua atividade principal?
Hals – Atualmente é como ilustrador de uma revista infantil e cartilhas.

Tinta China – Qual a sua maior fonte de renda com sua arte?
Hals – Atualmente a arte não tem rendido muito não. Não rende mas satisfaz.

Tinta China – Como você negocia o valor de seus frilas?
Hals – Me baseio em tabelas de custos, mas tudo vai depender do tipo de desenho.

Tinta China – Como é um dia típico de trabalho para você?
Hals – Geralmente a jornada é dupla. Tenho o meu trabalho na UFRGS e, depois disso, continuo em casa, desenhando.

Tinta China – Por onde você começa uma tarefa?
Hals – Geralmente eu começo matutando sobre o assunto. Mas no geral é pegar a folha de papela e esboçar até sair aquilo que considero ideal.

Tinta China – Quais ferramentas você utiliza e qual domina mais?
Hals – Lápis, canetas diversas, bico de pena e vários programas como Corel, Photoshop e Painte.

Tinta China – Que condições você exige ou depende para criar?
Hals – Um mínimo de organização na minha mesa, o material todo a mão e algum som ambiente.

Tinta China – Como você lida com os prazos?
Hals – Geralmente muito mal. É no último momento que eu começo e me desespero.

Tinta China – Como você mantém os originais que produz?
Hals – Tento organizar, da melhor maneira possível os meus trabalhos em pastas e em CDs.

Tinta China – Quais suas primeiras e atuais influências gráficas?
Hals – Bah. Isso é complicado porque são muitas. Mas vamos ao panteão de feras do traço: Edgar Vasques, Moa, J. Carlos, Moebuis, Frank Frazetta, Carlos Nine, Peter de Sève, Fabio Zimbres.

Tinta China – Onde você busca informações para apoiar sua criação?
Hals – Ultimamente a internet é a última palavra em repositório de imagens.

Tinta China – Você tem preferência por algum tipo de papel?
Hals – Isso depende do tipo de trabalho, ou melhor, da técnica a ser utilizada.

Tinta China – Quais macetes técnicos funcionam no seu trabalho?
Hals – Atualmente os macetes ficam mais restritos ao macetes dos softwares gráficos.

Tinta China – Qual o seu maior conflito com o mercado?
Hals – É tentar trabalhar de acordo com os meus princípios. Tentar trabalhar sempre com clientes que tenham uma postura ética perante o mercado e a sociedade.

Tinta China – Que dicas básicas você daria para um iniciante?
Hals – Pare, olhe e desenhe!

Foto: Claudia Cardoso

quadrinhos CHIQUINHA



Título: Ursão Bobão
Técnica: nanquim e computador
Veículo: site chiqsland
Local: Porto Alegre

sketchbook JOAQUIM FONSECA




Título: Estância
Técnica: aquarela
Veículo: caderno do autor
Local: Porto Alegre

leituras WALTER VASCONCELOS




Há algo nos desenhistas que também editam. Não que sejam melhores ou superiores, mas existe algo na cabeça deles que faz com que eles desenhem sabendo que cada traço pode ser muitos traços, dependendo do contexto em que ele se apresente. Assim nada tem um sentido muito fixo e tudo pode ser mudado de uma hora para outra. Claro que essa armação não é muito científica e é possível encontrar exemplos que contradigam isso até mesmo nesta revista. Mas o Walter serve de exemplo para mostrar como cada cabeça funciona de um jeito diferente. E como nossos hábitos se misturam com nossas intenções.

Normalmente um ilustrador sabe lidar com o contexto onde seu desenho vai ser apresentado e tem como coordenadas de um trabalho tudo que se refere a este espaço que lhe foi destinado: método de impressão, formato, a tipografia que o circunda e o uso da malha da página. Isso não é novidade e não é uma invenção deste desenhista editor, faz parte deste ofício. Mas um ilustrador normalmente se desliga dessas considerações uma vez definidos estes dados e fazem seu serviço como se estivessem escrevendo um texto: começo, meio e ponto final. Já esta outra categoria de desenhistas que o empirismo de minha pesquisa acabou de criar parece que está sempre desenhando com um olho no desenho e outro na História: uma carga de experiências passadas e futuras seguram a mão deste desenhista e o enchem de humildade. Neste sentido é até uma desvantagem que este desenhista vai ter que vencer de alguma maneira.



O Walter faz colagens mesmo quando não traz elementos externos - fotos, textos, clichês - para dentro do seu desenho. Faz colagens com seus próprios desenhos: traços rápidos, cuidados, descuidados, ásperos ou macios, curvas perfeitas ou retas imperfeitas tem a convivência forçada pela tesoura e cola e pelo olho controlador do dono. Olho este que pode vislumbrar milhões de soluções possíveis e deixar pistas destas soluções mesmo no serviço acabado. É como se as lâminas transparentes por onde se distribuem as partes do seu trabalho estivessem sempre prontas a se rearranjar.

Por outro lado, o desenho que o Walter nos apresenta não tem a fragilidade e a incerteza que o parágrafo anterior pode sugerir. Como bom editor ele sabe que deve criar um bom contexto onde estas idéias possam vingar. Assim, há sempre uma estrutura, às vezes mais outras vezes menos evidente, que serve de cama para essa farra e que vai facilitar nossa compreensão. Muitas vezes a cor e texturas de fundo vão fazer esse papel, outras vezes há uma malha por onde os traços se espalham.

Essa lógica se aplica tanto às ilustações como um todo quanto aos elementos isolados. Cada desenho do Walter parece uma colagem: olhos e narizes de universos distintos convivem numa cabeça cujo pescoço a liga a um novo universo. Estamos sendo constantemente apresentados a um diálogo entre formas que vai desde um pequeno detalhe até toda a superfície manchada, perfurada, riscada e tesourada da ilustração.

A sensação que temos é que essa intenção é infecciosa e vai se expandir além dos limites dos desenhos. Com isso conta também a parte editor deste ilustrador. Ele espera que o contexto possa conter o desenho. Apesar de cada desenho ter sua vida própria ele nasceu para o papel e a vida gráfica, o branco e o preto das letras. Só um contexto gráfico bem definido e estruturado pode segurar esses desenhos e deixar que eles respirem e não sejam afogados em sua própria afobação. Não há dúvida de que o Walter considera cada desenho um bicho vivo.



Uma analogia com o Dr. Frankenstein poderia ser tentada mas a afronta a criação divina gerada pelo racionalismo do pobre cientista alemão não tem nada a ver com a intenção deste quase carioca. Ele está mais para um Adão nomeando e renomeando as criações no paraíso. Ele quer mais dizer que o mundo humano é assim, desigual, fracionado e incompleto, e que mesmo assim ele existe. E sobrevive as custas da convivência dos opostos e da constante reelaboração de suas associações.

Ninguém precisa ser desenhista nem editor pra chegar a essas mesmas conclusões, mas o que o começo deste texto intui é que nós ocupamos apenas um lugar no espaço e que o caminho mais curto entre os pontos A e B nem sempre é a linha reta mas é aquele que nós vamos construindo com nossa curiosidade, aptidão e capacidade. O caminho do Walter se parece com esses rabiscos que ele tanto adora e alimenta até que possam andar sozinhos por aí: parecem divagações mas tem direção certa. E o Walter caminha assim: com um olho no fim e outro no começo.

Fabio Zimbres (Porto Alegre, maio de 2006)
publicado originalmente na revista Gráfica nº59

tutti giorni SÓ AS MOSCAS NÃO FALTARAM

Prejuízo incalculável:
1,5kg de guisado fora



Quem disse que bons eventos não têm efeito colateral? A Grafar em peso foi à abertura de Uns Desenhos no Museu do Trabalho e depois lotou mesas no Ateliê das Massas. O primeiro adultério de clientes um proprietário jamais esquece. Fica o registro histórico. A reconciliação será na próxima terça.

Serviço

Nome: Tutti Giorni, de Nani, vulgo Ernani Marchioretto
Endereço: Borges de Medeiros, 788 Altos do Viaduto
(escadaria oposta ao Hotel Everest)

Telefone: 9831- 8047
Horário: de segunda a sexta ao meio-dia, terças e sextas à noite
Atrações: agora com piano acústico

link legal CARLOS NINE

O talentoso argentino que
não cabe num elogio só.



Carlos Nine impressiona em tudo que faz – ilustração, quadrinhos, animação, escultura, livros – , em cada coisa que a que se dedica e em cada detalhe do que cria. Deslumbra como artista e cativa como pessoa. Nem precisa mais motivos para conhecer seu site rico de atrações.

www.carlosnine.com