sábado, 1 de agosto de 2009

charge BIER



Título: Mulher-aranha
Técnica: Caneta e aquarela
Veículo: Site do Sindbancários
Local : Porto Alegre

charge EUGÊNIO NEVES



Título: casal midia pacificar
Técnica: Bico-de-pena e computador
Veículo: Blog do autor
Local: Porto Alegre

charge SANTIAGO



Título: s/ título
Técnica: Caneta e computador
Veículo: Gazeta de Camaquá
Local: Porto Alegre

tira e queda MOA


Tira e queda é publicada aos sábados.

anabel LANCAST


Anabel é publicada aos sábados.

artur, o arteiro RAFAEL


Artur, o Arteiro é publicado aos sábados

ilustração LEO



Título: MEca
Técnica: Grafite
Veículo: Blog do autor
Local: Porto Alegre

guardanapoteca CARLA PILLA



Título: Ganesha
Técnica: Caneta
Veículo: Acervo pessoal
Local: Porto Alegre

leituras CINZA-CHOQUE

Apresentação por FZ da exposição do
Rafael Sica no Museu do Trabalho

primeiro: sentado numa cadeira com uma mesa na sua frente, um papel sobre a mesa e um lápis na mão. O branco do papel toma uma aparência assustadora, vibra e suga seus olhos, seus sentidos se turvam, uma vertigem toma conta do quarto, subitamente mal iluminado, e você mergulha na imensidão branca, desaparecendo para sempre, sua vontade uma mera lembrança, se é que algum dia houve alguma vontade nesses braços, nessas pernas etc.

segundo: sentado numa cadeira, diante de uma mesa, o lápis na sua mão ameaça o retângulo indefeso e fere com cortes desordenados a brancura original de uma folha de papel que lamenta o dia em que veio ao mundo, o emaranhado de linhas sangra e inunda o quarto, subitamente em chamas e escaldante etc.


terceiro: sentado diante da mesa, empurrando cuidadosamente o grafite sobre a fibra do papel, você percebe as linhas que saem da ponta do lápis e catalisam sinapses em seus neurônios, percebe as linhas que saem de sua cabeça e desenham carros, cabeças, lugares, casas, nuvens, cachorros, motocicletas, rolos de fumaça que sobem até o céu etc.

quarto: sentado, etc, o iluminado, subitamente cuidadoso, inunda a mesa de emaranhados e mergulha na fibra do quarto esquecendo o retângulo escaldante que sobe até o céu enquanto seus braços e pernas empurram o quarto que sai de sua cabeça, desaparecendo na fumaça.


é difícil imaginar como o Sica desenha. Às vezes parece tudo calculado, às vezes parece um jorro, às vezes, parece que vem de um lugar impossível, às vezes é de um lugar muito familiar e às vezes de um lugar infelizmente muito familiar. Em geral, o trabalho dele dá a sensação de vir muito facilmente, seja lá de onde venha, mas isso é também para se desconfiar. O que é realmente fácil é a maneira como ele acaba nos entranhando. Uma vez visto faz inevitavelmente parte de nós.

os personagens do seu mundo sofrem uma dor comum e ao mesmo tempo épica. Vivem um dia-a-dia previsível e claustrofóbico como o nosso e parecem nem ligar. Um olho é opaco e outro brilha sem motivo aparente. Eles vivem entre a resignação e a esperança. É como se na falta de uma luz no fim do túnel eles carregassem no crânio a ilusão de algo que possa mudar tudo. Como a insanidade, por exemplo.


o mundo desses personagens é ao mesmo tempo comum e inatingível. Inatingível como o lugar comum que esperamos um dia poder viver: transparente e eterno. E tão comum que é como o lugar que vemos da nossa janela. Os fios que saem dos postes, o asfalto que derrete, as platibandas, as portas e as janelas. Tudo insuportavelmente comum.

o traço do Sica consegue costurar entre o rasteiro e o inimaginável de uma maneira quase indiferente, como se ele não tivesse nada a ver com a hecatombe que se forma a seu redor. Mas como tudo o que vem das mãos e da cabeça do Sica, seu desenho tem esse poder de sintetizar os opostos: tanto é leve como pesado, simples e elaborado. Tudo que ele faz parece fácil mas tente fazer em casa pra ver como é.

e ele está apenas começando.

Fabio Zimbres (Porto Alegre, Outubro de 2008)