sábado, 15 de março de 2008
bate-pronto PEDRO ALICE
O mundo concreto de
um artista digital
Autor de um trabalho incomum, só poderia ser incomum o artista que aceitou responder as perguntas dessa vez. Pintor e desenhista de mão cheio, usa toda a energia que carrega nas mãos para mover pixels. Desde 1996 que Pedro Alice se dedica consistentemente a ilustração digital e agora está fechando o círculo e começando a expor trabalhos que derivam do pensamento gráfico digital: quadros que parecem telas virtuais, quando na verdade são feitos de matérias bem concretas. Um dos fundadores da seminal revista Kamikaze fez quadrinhos que são verdadeiros clássicos esperando uma reedição. Seu trabalho atualmente pode ser encontrado em fanzines, eventuais exposições coletivas e em revistas, jornais e livros tais como Extra Classe, Utopia, Cadernos Diplô, A Pata Maldita. Manda, Pedro!
Tinta China – Como artista gráfico, qual a sua atividade principal?
Pedro Alice – Ilustrador editorial. Também estou começando a desenvolver trabalhos plásticos, com gravura digital aplicada.
Tinta China – Como você negocia os valores de seus frilas?
Pedro Alice – Negocio os valores com flexibilidade, compreensão, realismo e senso de dignidade. Não me venham com migalhas... Se tu te sujeitas a trabalhar em condições aviltantes, este cliente só vai lembrar de ti quando não puder pagar. Quando houver dinheiro na jogada, ele vai contratar outro. Já ensinava o sábio Turuga...
Tinta China – Como é um dia típico de trabalho para você?
Pedro Alice – Atípico. Não gosto de cortar o fluxo das idéias, então não tem hora para começar e termina quando desabo de exaustão. Geralmente possui mais de 24 horas, e coisas como “refeição” se tornam meras abstrações.
Tinta China – Por onde você começa uma tarefa?
Pedro Alice – Ilustração editorial começa pela leitura do texto, né? Seguidamente faço uma pesquisa de imagens sobre o assunto. Estimula as idéias e evita que se repita trabalhos que já foram feitos. Em trabalhos plásticos ou pessoais, começa por um impulso inexplicável.
Tinta China – Quais ferramentas você utiliza e qual domina mais?
Pedro Alice – Adobe Photoshop.
Tinta China – Que condições você exige ou depende para criar?
Pedro Alice – Rock’n’Roll, café, cigarros e bananas (o fast-food mais rápido da galáxia).
Tinta China – Como você lida com os prazos?
Pedro Alice – Através dos tempos, fui me tornando cada vez mais rápido. Mesmo assim, não sou um desenhista veloz. Sou meticuloso e exigente com meu trabalho, e as soluções gráficas que utilizo demandam tempo. Recuso trabalhos com prazos impraticáveis por mim. No mais, corro como um desesperado para que eles não me alcancem.
Tinta China – Como você mantém os originais que produz?
Pedro Alice – No HD e em backups. Também tenho desenhos antigos em pastas e caixas de papelão (para o regozijo dos ácaros e das traças).
Tinta China – Quais suas primeiras e atuais influências?
Pedro Alice – Cresci numa família de posses modestas, porém cercado de livros e discos (LP, vinil). Tive contato com Hyeronimus Bosch e Picasso através de capas de livro, por isto as artes gráficas e plásticas sempre estiveram meio que misturadas na minha cabeça. As capas de discos de rock e jazz dos anos 60 e 70. Van Gogh e todos os impressionistas. As histórias em quadrinhos. Os desenhos animados da tv. Canini na Recreio. A publicidade. Surrealismo, paixão infantil substituída pelo Dada e pelo Pop na adolescência. Os cartazes de propaganda da IIª Guerra Mundial. Os cartazes de cinema. O Pasquim que eu lia escondido dos meus pais. Com 10 anos viciei em cartum e humor. Fradim o 1° punk. A imprensa de resistência à ditadura e com ela Santiago, Edgar, Eugênio, Juska, LFV,Rubem Grillo... Jaca nos 80. Os desenhos do Alemão Guazzelli feitos à Bic nas classes da escola, que as serventes apagavam com álcool e depois eu restaurava, antes da gente ficar amigo. Os ilustradores da Europa Oriental comunista. Fontanarrosa, Breccia e todos aqueles argentinos. Gigger, Dave MacKean, Liberatore e todos aqueles terráqueos. CHEGA!!! Enfim, o universo, o multiverso e além...
Tinta China – Onde você busca informações para apoiar suas criações?
Pedro Alice – No Google.
Tinta China – Você tem preferência por algum tipo de papel?
Pedro Alice – No meu trabalho plástico tenho feito pesquisas com transparência. Também utilizo o papel Granitto da Filiperson, mas não sei se ainda existe no mercado.
Tinta China – Quais macetes técnicos funcionam no seu trabalho?
Pedro Alice – Sobreposição de uma mesma imagem com tratamentos diferenciados, em layers com variados atributos de transparência e luminosidade.
Tinta China – Qual o seu maior conflito com o mercado?
Pedro Alice – Mercado?! Vocês devem estar brincando... Esqueceram que, antes de virar uma referência nacional, Allan Sieber passava fome em Porto Alegre?! Por mais lindos que sejam os infográficos do Gabriel Renner, vocês acham que esta é a melhor utilização para o talento deste rapaz?! Neste pedaço de chão esquecido pelos homens e abandonado por deus, é mais fácil caçar Saci do que encontrar o mercado. Nem o Walter Mercado aparece por aqui...
Tinta China – Que dicas básicas você daria para um iniciante?
Pedro Alice – Existem bilhões de pessoas no mundo. Um grande número delas não vai gostar do seu trabalho, a maior parte nem vai notar que ele existe. Não se intimide com críticas. Algumas serão totalmente disparatadas, ou poderão ser lúcidas e inteligentes mas não se aplicar a sua intenção estética. Outras serão muito úteis. Reflita com carinho e defenda seus pontos de vista com serenidade e segurança. E nunca pare de experimentar.
Foto: Pedro Alice
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sexta-feira, 14 de março de 2008
design LOUZADA
Postado por Grafar às 03:00 3 comentários
publicações TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
Um clássico dos quadrinhos
desenha um clássico da literatura
Pela coleção Clássicos em Quadrinhos da Editora Agir está programado mais um clássico desenhado por um gaúcho, e dessa vez por um verdadeiro clássico das nossa artes gráficas, o pai do Rango, mestre das penas e pincéis e autor do cabeçalho que encima nosso blog, o inquebrantável Edgar Vasques. Idealista e duro na queda como o próprio Policarpo Quaresma, não podiam ter escolhido melhor. O roteiro é de seu amigo Flávio Braga e o universo não é estranho ao desenhista que já tinha ilustrado uma edição do próprio livro. Munido de videos, fotos, livros e o que mais lhe cair na mão, Edgar faz diárias viagens ao começo da República no Brasil ao Rio antigo, aos primeiros sonhos que ainda perduram mesmo com o triste fim do título e do próprio autor, Lima Barreto. O álbum colorido terá 60 páginas e está programado para este ano.
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série do mês A MORTE
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