sábado, 14 de junho de 2008

bate-pronto GABRIEL RENNER

Saindo do Estúdio Pinel
pela porta da frente



Essa espécie de D'Artagnan dos quadrinhos gaúchos, Gabriel Renner está invadindo a alta corte dos quadrinhos nacionais sem ajuda de outros mosqueteiros. Munido de sua pena ágil e olhar melancólico está arrebatando prêmios por onde anda. Dispensável fazer uma lista, só diremos que acaba de voltar das praias ensolaradas do humor carioca onde abocanhou mais um peso de papel e alguns pilas para os cofres. Essa visão melancólica de que falamos acima é responsável pelo desespero de seus personagens mas não o impede de ter alguma esperança, já que ele juntou dinheiro para lançar uma revista, Letal Mágico, a venda numa internet perto de você, onde ele, com toda a paciência, explica para nós como esse mundo é vazio de sentido. Como ainda não entendemos bem a lição, Renner está juntando dinheiro para lançar o número 2. E não descansará de sua batalha até que a verdade seja compreendida. Felizmente para os leitores do Tinta China, ele concordou em roubar uns minutos de sua luta diária e nos responder algumas perguntas. Aproveitem.

Tinta China – Como artista gráfico, qual a sua atividade principal?
Gabriel Renner – Trabalho como ilustrador e infografista de jornal, e faço desenhos para uma que outra editora. Procuro meu destaque na minguante área de quadrinhos, e tiro um troco vendendo a revista Letal Mágico.

Tinta China – Como você negocia os valores de seus frilas?
Gabriel Renner – A maioria dos freelas que faço já tem um valor mais ou menos estabelecido, porque acabo trabalhando com as mesmas pessoas. Também depende muito da liberdade que tenho para me satisfazer com o meu traço particular. Fazer desenhos de catálogos para indústria calçadista sai mais caro, porque sempre ficam editando os detalhes dos desenhos.

Tinta China – Como é um dia típico de trabalho para você?
Gabriel Renner – Acordo no meio da manhã, olho alguns desenhos, enquanto luto para levantar da cama. Acabo levantando tarde demais para fazer algo, então esboço o que me ocorreu enquanto me espreguiçava, para enfim, fazer tudo durante a madrugada, depois de voltar da firma.

Tinta China – Por onde você começa uma tarefa?
Gabriel Renner – Tento ficar de bem. Dar uma volta de monareta, escutar uma musiquinha legal ou acordar inspirado com a patroa ajuda muito. Passo um café, penso no que quero fazer e no que preciso pra executar, recolho tudo, fecho a janela, ligo a luminária, aperto play e me enfio num mundinho particular.

Tinta China – Quais ferramentas você utiliza e qual domina mais?
Gabriel Renner – Minha última remessa de canetas Futura. Gosto de quando desenho rápido e as coisas funcionam. Largar no micro e pintar prá ver prontinho é a melhor parte. Acho que por isso, acabo usando sempre o phothoshop.

Tinta China – Que condições você exige ou depende para criar?
Gabriel Renner – Gosto de estar entre meus livros e meus discos, no Estúdio Pinel. Luz elétrica e um scanner que não seja temperamental também ajudam.

Tinta China – Como você lida com os prazos?
Gabriel Renner – Tenho bastante jogo de cintura com isso, odeio receber pressão, mas como não gosto de demonstrar minha antipatia, tento manter os editores bem tranquilos mandando sempre prévias da produção enquanto eu as realizo.

Tinta China – Como você mantém os originais que produz?
Gabriel Renner – Vou acumulando em gavetas de roupas, enquanto as mesmas, ficam espalhadas pelo chão. E por mais que tento me organizar feito um almoxarifado, sempre levo horas para encontrar algo.

Tinta China – Quais suas primeiras e atuais influências?
Gabriel Renner – Em quadrinhos, sempre curti os almanaques da Disney e os álbuns dos Filhos do Trapalhões também, além de amar muito os desenhos animados. Depois me amarrei em Calvin. Mais tarde, Angeli e Laerte me abriram os olhos pra coisa nacional. Os gibis do Sandman me fizeram entender melhor o mundo da hq e o que dava pra ser feito com desenho. Mutarelli e Crumb deram a pitada final. Foram a pimenta. Além disso, adoro Toulose Lautrec, Kent Williams, Simom Bisley e Adrian Tomine.

Tinta China – Onde você busca informações para apoiar suas criações?
Gabriel Renner – No corriqueiro e na minha vontade de fantasiar alguma coisa. A maioria das referêcias vem de lembranças emotivas, tipo móveis da casa dos meus pais e a arquitetura de São Leopoldo. A estética do brasil anos 70 me agrada, principalmente quando ainda se encontra presente nos tempos atuais.

Tinta China – Você tem preferência por algum tipo de papel?
Gabriel Renner – Folha de of'ício.

Tinta China – Quais macetes técnicos funcionam no seu trabalho?
Gabriel Renner – Ando desenhando cada vez menor, o que acho que dá mais valor ao traco rápido, transparecendo com mais nitidez as formas com que resolvo cada situação.

Tinta China – Qual o seu maior conflito com o mercado?
Gabriel Renner – Conciliar o meu sujo traço autoral aos resumidos conceitos cleans da modernidade.

Tinta China – Que dicas básicas você daria para um iniciante?
Gabriel Renner – Entregar-se a sua obra tanto quanto necessita dela para viver. Sobreviver já é outra coisa.

Foto: Xiru Sander Scherer

Um comentário:

ê. disse...

Grande Renner, o verdadeiro quadrinista sagaz! Avisa quando for rolar Letal 2!
aquele abraço