sábado, 7 de novembro de 2009

bate-pronto CHIQUINHA


Num mercado dominado por hombres,
ela é uma talentosa e admirável exceção




Se produtividade fosse unidade de tempo, essa guria já teria uns 40 anos. Ou outro parâmetro para tanta criatividade: o que ela já consumiu de canetinha daria um traço equivalente a 3 voltas e meia na Terra. Por onde quer que se olhe, a criação da Chiquinha - cartuns, quadrinhos, personagens, ilustração - impressiona: mantém um site e um blog, onde leitores são mantidos reféns da sua incrível variedade de gracinhas. Ela cativa na Folha de SP, no Diário de Pernambuco, na Mad e na Sexy Premium. E já fez o mesmo no JB, em ZH, no Diário Catarinense e Jornal do Comércio, que não foram bem humorados o bastante pra bancar sua visão não-comportadinha da vida que rola pelaí. Para quem se diz iniciante, a Chiquinha esbanja acuidade: a percepção da sua geração é singularmente sarrista, e remixar referências culturais desta e outras épocas já virou marca registrada. Loquaz no traço e no conteúdo, sua arte cutuca reacionários de todas as idades - um atestado de qualidade. Aos 25 aninhos, a criadora da Elefoa e do Asdrubal constrói um diário contemporâneo onde não poupa nem a si mesma. Enfim, a batalhadora Fabiane Bento já tem muito o que dizer sobre a profissa e a vitrine deste Bate-Pronto é toda dela. Para gáudio do Tinta China. Aeee, colééééga!


Tinta China – Como artista gráfica, qual a sua atividade principal?
Chiquinha – Ultimamente tenho feito algumas ilustrações. Mas o que eu gosto mesmo e faço todo dia são historias em quadradinhos!

Tinta China – Como você negocia os valores de seus frilas?
Chiquinha – Alguns já vem com um valor estipulado e a gente negocia dependendo do trabalho. Colunas fixas por exemplo. Outros eu jogo o verde e colho o maduro. Ou o verde mesmo.Ok, sem metáforas mangól.

Tinta China – Como é um dia típico de trabalho para você?
Chiquinha – Acordo geralmente com sono, tomo banho, faço meu nescau, ouço umas noticias no rádio, ponho um disco, leio os e-mails e vejo o que tem pra se fazer com mais urgência. Geralmente anoto as idéias e faço rascunhos pra finalizar só de noite ou de madrugada, é nesse horário que gosto mais de trabalhar.

Tinta China – Por onde você começa uma tarefa?
Chiquinha – Gosto de ficar fruindo sobre o que tenho que fazer, sempre com papel e caneta por perto. Fico anotando tudo, rascunhando pra depois olhar e ver no que deu. É muito relativo, às vezes começo por uma idéia que tenho meio sonâmbula pela casa, ou no ônibus, ou lavando louça, enfim, durante as atividades corriqueiras da vida. Ás vezes começo pelo pedido de um cliente, ou por uma sugestão de pauta e assim vai. Sempre vou mapeando na cabeça antes de começar, então mais ou menos visualizo como vai ter que ser feito.

Tinta China – Quais ferramentas você utiliza e qual domina mais?
Chiquinha – Uso papel e caneta. Mais precisamente a Cis Pen, algo como uma substituta para os órfãos da Futura. Também gosto muito da Pitt que faz às vezes de pincel (como canhota deixo tudo muito sujo trabalhando com nanquim, a mão vai passando por cima, uma nháca total – quem é canhoto conhece o drama). Acho que tratando-se de tecnologias “avançadas” só domino baldinho de tinta do Photoshop. Risos.

Tinta China – Que condições você exige ou depende para criar?
Chiquinha – Quase nenhuma, a não ser estar respondendo aos meus estímulos cerebrais. No mais, papel+caneta+scaner em um ambiente amigável. Simplinho assim. Estar chateada ou com ódio de alguma coisa também ajuda de vez em quando.

Tinta China – Como você lida com os prazos?
Chiquinha – Acho que bem. De vez em quando dou uma atrasada em uma ou outra coisinha, mas sempre mantenho o editor ou cliente a par da situação. Não gosto de ninguém cobrando e enchendo o saco e o único jeito de evitar isso é sendo fiel aos prazos definidos. Mas na grande maioria das vezes entrego tudo certo, até por que, se não faço isso fico infartada e insone.

Tinta China – Como você mantém os originais que produz?
Chiquinha – Prendo as folhas desenhadas com um clipe e guardo em pastinhas que ficam na gaveta da minha mesa.

Tinta China – Quais suas primeiras e atuais influências?
Chiquinha – Desde criança, por intermédio dos meus irmãos mais velhos, sempre tive uma Chiclete com Banana, Animal ou revistas da Circo em mãos. Minhas primeiras influências descaradas foram o Ota (cartunista e editor da revista Mad) e o Angeli. O Adão e o Allan também, sempre foram fontes de inspiração nos tenros anos da minha mocidade, assim como os quadrinhos underground da década de 60, Crumb, Gilbert Shelton etc, além das revistas de terror ilustradas pelo Nico Rosso. Gosto muito do Kaz, Tonny Millionaire, Shag, Charles Burns, Miss Gally e agora tou lendo um livro do David Mazzucchelli que é demaaaish.

Tinta China – Onde você busca informações para apoiar suas criações?
Chiquinha – Por aí, as coisas do mundo são muito bizarras por si só.

Tinta China – Você tem preferência por algum tipo de papel?
Chiquinha – Folha de oficio A4. Compro de pacotão.

Tinta China – Quais macetes técnicos funcionam no seu trabalho?
Chiquinha – Estar de óculos e desenhar maior me ajudam bastante.

Tinta China – Qual o seu maior conflito com o mercado?
Chiquinha – Acho que meus quadrinhos soam meio ácidos, ou do mal de vez em quando. Piadas sobre sexo, religião, canibalismo, doenças ou mesmo novas tecnologias meio que ofendem de certa forma alguns leitores. Essa coisa de rir do óbvio ululante, não sei por que, deixa um pessoal irritadinho. Afinal, o que se espera é que uma garota faça desenhos meiguinhos e fofos. Aliás, essa palavra mercado me dá certo calafrio de pavor. Brr.

Tinta China – Que dicas básicas você daria para um iniciante?
Chiquinha – É, eu sou uma iniciante.. mas acho que posso dizer: desenhar compulsivamente é o caminho.

Foto: Luiz Henrique Pellizzari

3 comentários:

Anônimo disse...

Aiai .. não é uma gracinha?!
Além de tudo, tem uma verve humoristica ácida-pom-pom que é demais!
Sou fã!!!
louzada

Mary O. disse...

Lá em casa todo mundo é fã dessa gostosa aí. weeeee! Orgulhão! muaaah!

Kainã Lacerda disse...

Ah, ela é liiinda!
Adoro o trabalho dela e do Sieber!